Podemos definir o aprendizado como sendo uma forma de um indivíduo reagir ao ambiente, modificando o comportamento através da utilização de sinais perceptíveis sensorialmente ou de instrumentos disponíveis, com fins de solucionar problemas para obter algum benefício.
Existem duas formas básicas de aprendizado, o de reações involuntárias ou reflexos, e, o de ações voluntárias. De fato, apesar de serem mecanismos diferentes, durante as diversas situações práticas e reais, normalmente as duas vias ocorrem simultaneamente, pois, cada ação é inevitavelmente repleta de emoções, sensações e percepções ambientais.
1ª Lei do aprendizado: Condicionamento Clássico
Trata-se do aprendizado de reações involuntárias. Essa via de aprendizado foi descrita inicialmente de maneira sistemática e científica pelo médico russo de nome Ivan Petrovich Pavlov, que efetuou na Alemanha um extenso trabalho com a fisiologia da digestão a partir de 1879, trabalho esse que culminou com o Prêmio Nobel de Medicina de 1904, e, desencadeou nos estudos do condicionamento, área que lhe deu a maior projeção histórica. De 1902 até a sua morte em 1936 concentrou suas pesquisas nos fenômenos do condicionamento. Pavlov pode ser considerado o fundador dos estudos experimentais do aprendizado animal.
De uma maneira resumida, o experimento de Pavlov assim se desenrolou:
Como seu trabalho inicial era focado na fisiologia da digestão, e, no período em questão buscava descrever as fases da digestão, iniciou investigando o que posteriormente veio a ser denominado de “Fase cefálica da digestão”, que é a etapa em que processos fisiológicos ocorrem antes da chegada da comida ao estômago. Naturalmente, há muito se conhecia que alterações ocorriam nos organismos mesmo antes da entrada do alimento na boca, como por exemplo o aumento da secreção salivar, pela simples percepção visual ou olfativa da comida, e, para a melhor descrição dessas ocorrências, preparou um experimento que, num primeiro raciocínio, lhe pareceu controlado. Pavlov efetuou uma incisão no ducto salivar de um cão, canalizando sua produção de saliva para um tubo coletor e medidor; além disso, dentro da premissa da necessidade do controle para um experimento científico, colocou o cão em cima de uma mesa e, preso a um peitoral, para limitar sua movimentação, como no esquema abaixo:
Inicialmente, conforme o previsto, sempre que lhe era apresentada a comida o cão respondia automaticamente com aumento da salivação. Porém, algo começou a sair do controle do pesquisador: na medida em que os dias se passavam e o experimento se repetia, o cão começava a, cada vez mais, antecipar o momento em que começava a salivar. Isso criou uma dificuldade para Pavlov, pois, ele perdera o controle do momento da salivação, colocando em risco o experimento.
Aquilo que surgia como problema iria se tornar, na sequencia, uma grande revolução na ciência. Sua resposta ao problema foi criar uma caixa acústica e visual em torno do cão, para que ele não pudesse perceber a rotina, e, portanto, não mais salivar antes da apresentação de comida.
Devido aos fatos observados na perda do controle do experimento causados pela resposta cada vez mais antecipada a eventos rotineiros que precediam a alimentação, Pavlov percebeu que o cão poderia salivar não só em resposta a comida, mas a algum sinal ambiental associado a comida. Essa percepção foi a grande revolução na ciência do aprendizado.
Como Pavlov constatara a existência dessa possibilidade de associação ou conexão de algum sinal ambiental com a alimentação, e que esse sinal poderia evocar as respostas anteriormente exibidas apenas mediante a apresentação de comida, começou, com o agora “encaixotado” cão, a, acionar um metrônomo sempre antes de abrir a escotilha da caixa acústica e apresentar a comida através dela.
Pavlov observou que, na medida em que as repetições dessa rotina se seguiam, o cão começava, de forma gradativa e progressiva, a salivar assim que escutava o som do metrônomo, até um momento em que, passou a salivar na mesma intensidade e volume respondendo ao som do metrônomo quando comparada a intensidade e volume anteriormente registrada como resposta estrita a apresentação de comida.
Nesse momento passou a denominar fatos e eventos:
1- Estímulo incondicionado > alimento
2- Reflexo incondicionado > salivação em resposta a apresentação do alimento
3- Estímulo condicionado > som do metrônomo
4- Reflexo condicionado > salivação em resposta ao som do metrônomo
A partir de então iniciaram-se novos ensaios e experimentações, realizando os mesmos procedimentos com campainhas, luzes etc, sempre com resultados similares. Estava então estabelecida a chamada 1ª Lei do Aprendizado, ou, Lei do Condicionamento Clássico. Não é difícil de se imaginar que isso foi apenas o começo, e que, nas mãos de um genial pesquisador, já Premio Nobel, ainda muita coisa surgiria como desdobramento desse experimento inicial. Em outras oportunidades abordaremos as consequências decorrentes dessa constatação inicial. Apesar das demais descobertas sequenciais a estas iniciais serem complexas, para nosso texto, no momento, ateremo-nos apenas as mais simples.
Como no passar das repetições chegou-se a um ponto em que o cão salivava respondendo ao sinal condicionado na mesma intensidade e volume que anteriormente ao processo salivava apenas em resposta a apresentação de comida, Pavlov começou a não mais entregar a refeição após a emissão do sinal (campainha, por exemplo). Ele observou que, com as repetições sucessivas sem a entrega sequencial da comida, o cão começou a, gradualmente e progressivamente, diminuir a intensidade e volume da salivação, até um determinado momento em que, não mais salivou. Pavlov denominou esse fenômeno de “Lei da extinção”, onde todo condicionamento não reforçado tendia a extinguir-se.
2ª Lei do aprendizado: Condicionamento Instrumental
Contemporaneamente a Pavlov, nos Estados Unidos, um psicólogo de nome Edward Lee Thorndike desenvolvia um trabalho que se consagrou como a “2ª Lei do Aprendizado” ou, “Lei do Condicionamento Instrumental”.
Em suma, Thorndike elaborou uma caixa, cuja frente propiciava visão com o exterior através de uma grade, e, no seu fundo, equipou com uma alavanca que, caso acionada, liberava um dispositivo de abertura de sua porta frontal.
Dentro dessa caixa colocou um gato, e, o deixou por um determinado período sem ser alimentado. Depois de certo tempo apresentou uma vasilha com comida pela frente da caixa/gaiola. Inicialmente o gato tentou, sem sucesso, alcançar a tigela com as mãos, através das grades. Depois de muito tentar diretamente, com o passar do tempo, o gato começou a, aleatoriamente, movimentar-se cada vez mais freneticamente no interior da caixa. Em um determinado momento, ao acaso, o gato esbarrou na alavanca, que, liberou a abertura da porta. O gato prontamente saiu e se saciou. Eis um esquema da “caixa problema”:
O experimento foi repetido por sucessivas vezes, e, gradativamente, com o passar das repetições, reduzia-se o intervalo de tempo entre a apresentação da comida e o acionamento da alavanca, até um dado momento em que, ao apresentar da comida, sem nenhuma tentativa de alcance da comida através da grade frontal, o gato passou a ir diretamente a alavanca existente no lado oposto da caixa. Dessa forma Thorndike constatara que o gato era capaz de aprender a acionar um instrumento indireto (alavanca nos fundos da caixa) para atingir o seu objetivo direto (tigela com comida a frente da caixa).
Na sequencia, Thorndike travou a alavanca, de forma que não mais abrisse a porta ao ser acionada. O observado foi que, com o passar do tempo e tentativas mal sucedidas, o gato deixava gradualmente de tentar acioná-la com o intuito de obtenção da comida, e, retornava ao seu comportamento inicial de tentar alcançar a comida de maneira direta através da grade frontal da gaiola. Thorndike denominou o observado de “Lei do efeito”, que reza que toda futura ocorrência de determinado comportamento é consequência de seu sucesso ou insucesso anterior.
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