Adestramento

O Pastor Alemão do futuro!

Max Macedo
Escrito por Max Macedo em 11 de setembro de 2017

O que significaria a palavra raça? Qual a definição científica dessa palavra na zootecnia? Seria uma padronização circunscrita por um modelo fenotípico morfológico, estabelecido por um isolamento geográfico, ou por uma pressão seletiva, determinada por uma associação de criadores? Segundo o Dicionário Aurélio, trata-se de uma subdivisão de uma espécie animal. Segundo a Wikipédia, sinônimo das subespécies. De acordo com um site de significados das palavras, a palavra raça vem do latim ratio, que quer dizer categoria. Dividir algo em raças é categorizar. O conceito consagrado no senso comum universal a respeito das raças perdurou, tecnicamente, até o domínio da biologia molecular e genoma. De fato não existe nenhuma norma para considerar categorias sistemáticas abaixo da subespécie. Não há uma linha estanque.

Mas vamos à origem disso tudo: quando surgiram as chamadas raças, na concepção que a nossa geração ainda tem como modelo mental e, das diversas espécies, sejam caninos, equinos, bovinos etc? De uma forma geral, a partir dos séculos 18 e 19. Curiosamente, isso coincide com a formação dos estados nacionais, em um modelo mais próximo do que conhecemos hoje. Foi uma era da humanidade de hipervalorização da uniformização e da representatividade nacional, seja por fronteiras mais demarcadas, por bandeiras, por raças de animais e, porque não, por raças humanas, como bem quis Hitler.

“Eugenia” é um termo criado por Francis Galton em 1883 e tornou-se o nome de uma controversa ciência relacionada ao melhoramento genético. A palavra eugenia surgiu antes, inclusive, da palavra genética. Galton, que era primo de Charles Darwin, influenciou muito a concepção, formação e consolidação dos conceitos de padronização zootécnica, nas diversas espécies de animais domésticos no mundo, o que coincidia com um ideal geral de uniformidade reinante, em todas as outras áreas no senso comum universal da época. A eugenia tomou sua face mais extrema com Hitler e, a queda do 3o Reich iniciou um efeito dominó nos diversos processos raciais pelo mundo, de maneira mais lenta ou mais rápida, dependendo da espécie e do país, sendo que, nas espécies utilitárias ocorreu de forma muito mais rápida e contundente.

Assim como outras raças e outras espécies, o Pastor Alemão foi objeto de um extremo trabalho eugênico, vindo a tornar-se um símbolo alemão, nos meados do século 20. Contudo, qual seria a continuação disso e com quais finalidades? Até que ponto isso iria ou deveria ir? O fato é que as finalidades foram perdendo-se em si próprias e, o que ocorreu em outras espécies, talvez estivesse por ocorrer agora na espécie canina, justamente em um momento de consolidação da padronização de toda uma “raça”, em escala mundial.

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Mas vamos a fatos paralelos: qual a raça dos frangos que nós utilizamos na alimentação humana ou que produzem os ovos disponíveis nos supermercados? E dos suínos? Quais as raças dos cavalos que disputam o hipismo nas olimpíadas? Qual a raça dos cães da polícia holandesa? Sei que começo agora a mexer num vespeiro e, isso requer uma reflexão filosófica. Nas galinhas existem as chamadas raças puras, citando alguns exemplos, a Leghorn, New Hampshire, Rhodes, Plimouth Rock, etc, mas que hoje se restringem a criadores românticos, em clubes que lutam para sobreviver e manter acesa a chama do purismo racial. Não é segredo o fato de existirem cavalos olímpicos registrados em quatro diferentes stud books de quatro raças diversas, com a única finalidade de propiciar uma reprodução controlada e a propagação de suas qualidades; porém, qual a “verdadeira raça” de um cavalo assim?

A tendência do conceito de raça é entrar em declínio gradativo. A questão é que, até então, por limitação humana, o mais fácil era estabelecer como critério aspectos morfológicos; o visual é uma das formas de comunicação mais primitivas, inclusive em nós, humanos, que representa muito em termos de expressão cultural. Em determinadas questões, a humanidade tende para as visões mais utilitaristas e, com certeza, a cinofilia será influenciada por isso. Possivelmente, para muitos grupos de cinófilos, os cães serão selecionados apenas por critérios utilitários, e, as raças como são atualmente, serão como as raças de galinhas, coisas do passado e sustentadas por românticos, que trabalham em prol de um sonho e não puramente por questões de utilidade.

Podemos observar claramente que há certa tendência dos atuais Pastores Alemães utilizados para trabalho apresentarem características morfológicas bem diferentes dos encontrados nas exposições de beleza e, apresentarem talvez mais semelhanças com determinados grupos de Malinois ou de Pastores Holandeses. Existe uma intersecção nas populações, o grupamento de Pastores Alemães selecionados pelas provas de IPO ou Ring tende a se aproximar, morfológica e geneticamente, do grupamento de Malinois selecionado no IPO ou Ring.

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Realizemos uma rápida pesquisa na internet, sobre como existem e como são conduzidas as criações de galinhas de raça pura e ficará mais fácil fazer uma projeção do futuro das raças de outras espécies. Naturalmente, o teor e a dependência utilitária que temos de cada espécie será o catalisador dessas mudanças conceituais, de objetivos e culturais. É difícil nos desvencilharmos dos modelos mentais, somos escravos do condicionamento. Como nos libertarmos? Se compreendermos que o conceito de raça é frágil, virtual, irreal, cai-se também o conceito do que é um mestiço, e, então, vemos por desmoronar um lindo castelo (de areia) que construímos por mais de um século com cuidado e capricho enormes, mas, utilizando matéria prima sem consistência, facilmente desfigurável pelas ondas do conhecimento.

Outra questão importante é a manutenção das características de determinado grupo: um grupo surge e se uniformiza porque, ou a natureza (seleção natural), ou o homem (seleção artificial) estabelece parâmetros de corte, ou seja, indivíduos que conseguem suplantar esses parâmetros entram em reprodução; indivíduos que não conseguem, não se reproduzem. Com o passar das gerações, se todos os indivíduos, sem exceção, a cada geração, são submetidos a esses parâmetros de corte, aquela população (fechada) começa a exibir uma maior ou menor padronização, seja morfológica, anatômica, ou, comportamental. A questão é que, se em um dado momento, a necessidade de atender esses parâmetros for retirada, com o passar das gerações a tendência é que aquelas características relativas à necessidade de superação dos parâmetros começarão gradativamente a se perder, principalmente as comportamentais. E por que principalmente as comportamentais? É porque temos mais dificuldade de observá-las e estabelecer controle; já as visuais são muito mais óbvias.

Caso o objetivo for utilitário, ou seja, produzir bons cães para o trabalho, que propiciem desempenho, deveremos desconstruir nossa dependência do conceito de raça e pureza. Lembremo-nos: isso foi um castelo de areia que construímos com muito cuidado, muita paixão e romantismo no passar dos anos mas, de certa forma, irracional. Fomos imersos em uma cultura de dependência de um conceito determinista de pureza racial. Quem conheceu o filme que se tornou uma série de sucesso nos anos 70, de nome “Logans run”? Quem não assistiu recomendo que assista; se não encontrá-lo, leia sobre esse filme na internet. Trata-se de uma fabulosa e visionária abordagem do escritor da história sobre a formação de conceitos.

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